Stephen Lerner veio ao Brasil, falou com os bancários e pirou
publicado em 16 de junho de 2012 às 13:48
OCCUPY WALL STREET
Por Stephen Lerner*
11 de junho de 2012
no Alternet, reproduzido no site do Sindicato dos Bancários de São Paulo
4 Lições dos Bancários (Sindicalizados!) do Brasil que Poderiam Consertar o Sistema Bancário Esfrangalhado dos Estados Unidos
Imagine se ao invés de alguns poucos denunciantes, nós ajudássemos a capacitar centenas de milhares de trabalhadores bancários a denunciar atos ilegais dos bancos.
Eu fui criado num país em que a tradição, os costumes e a economia frequentemente definem quem fica por cima, quem está no comando e quem é desprovido de qualquer poder.
Meu mundo foi virado de ponta-cabeça por uma viagem que fiz recentemente ao Brasil. Talvez tenha sido o vôo noturno e as noites que se seguiram, movidas ao potente destilado brasileiro, a cachaça. Talvez tenha sido o calor e as pessoas tenazes e convictas da Contraf e do Sindicato dos Bancários de São Paulo (sobre os quais falarei mais abaixo) que me ensinaram tanto.
Elas compartilharam comigo algo que poderia mudar as vidas dos americanos que não têm medo de chacoalhar seu sistema e o mundo.
Eu testemunhei e vivenciei reversões de papéis, energia e paixão que chocariam a maior parte das pessoas nos Estados Unidos.
Por intermédio de suas experiências e visão, elas me convenceram que um mundo melhor é possível.
Vou compartilhar aqui algumas lições do Brasil que poderiam mudar nosso futuro, lições que uma vez aprendidas podem trazer um novo significado para nossas vidas. E técnicas que, com tempo e prática, podem aumentar nossa força, melhorar nossa criatividade e ajudar centenas de milhares de pessoas enjauladas em relacionamentos doentios a se libertarem daqueles com poder sobre elas.
Quem sabe? Talvez um dia executivos de bancos tresloucados serão enquadrados por trabalhadores bancários de saco cheio de patrões que, para enriquecer, afundam a economia global. Para entender o contexto dessas lições, é útil traçar um breve histórico.
Até 1985, o Brasil era uma ditadura militar. Agora com quase 200 milhões de habitantes, o Brasil acaba de ultrapassar o Reino Unido para se tornar a 6ª maior economia do mundo. O país é governado pelo Partido dos Trabalhadores e o presidente anterior à atual, Luiz Inácio Lula da Silva, foi metalúrgico e sindicalista.
Dilma Rousseff, a atual e primeira presidente mulher, fez parte do movimento estudantil que se opôs à ditadura militar e foi presa e torturada em sua juventude.
Como foi que o Brasil passou de ditadura militar a democracia vibrante, onde empregos são gerados, salários sobem e ações ousadas são empreendidas para combater a pobreza? Como foi que o Brasil passou de país em que manifestações eram reprimidas e seus participantes presos, torturados e assassinados, para país onde um ex-metalúrgico pôde virar presidente?
Rita Berlofa, uma liderança do Sindicato dos Bancários de São Paulo, descreveu esta mudança da seguinte maneira durante a recente convenção do Sindicato Internacional de Trabalhadores em Serviços – SEIU, em Denver (Colorado, EUA):
– “De 1964 a 1985, nós lutamos contra o regime militar, por eleições livres e por democracia. Durante esse tempo nós congregamos muitos movimentos sociais, e juntos nós demos força para os movimentos sociais se organizarem. Organizamos estudantes e trabalhadores, do campo e da cidade…
– Em 1978, um jovem chamado Lula, migrante do nordeste do Brasil, a parte mais pobre do país, que trabalhou como engraxate quando criança, depois se tornou metalúrgico e líder do sindicato dos metalúrgicos…
– Lula ousou fazer algo audacioso, organizar uma greve de metalúrgicos para confrontar a ditadura militar.
– Isto era algo inimaginável durante a ditadura. Por causa da ousadia da greve e da coragem demonstrada pelos trabalhadores, ela inspirou as pessoas pela sociedade afora. Líderes sindicais, intelectuais, políticos e representantes dos movimentos sociais. E todos nos juntamos para discutir a necessidade de um movimento social para os trabalhadores.
– Um movimento social que permitisse que os trabalhadores liderassem, tomassem decisões sobre a vida política e social do país, e mudassem o Brasil.
– Este movimento social nasceu do sonho de liberdade dos trabalhadores”.
A ditadura foi removida do poder por um forte movimento social conduzido pelos estudantes, por organizações comunitárias e sindicatos. Desde 1979, o MST, um movimento de trabalhadores sem-terra, ocupa e se apossa de terras abandonadas e sub-utilizadas por todo o país.
Enquanto isso, o setor bancário sindicalizado tem evitado que os bancos cometam alguns dos piores excessos dos bancos nos Estados Unidos.
A história e a atualidade do Brasil oferecem algumas lições para nós americanos sobre como deveríamos conceber um desafio ao poder crescentemente tirânico e descontrolado dos super-ricos e das grandes empresas aqui nos Estados Unidos.
1. Os trabalhadores não têm de adotar uma posição submissa
No Brasil, 19% de todos os trabalhadores são sócios de sindicatos. (Uma porcentagem muito mais alta tem a cobertura de convenções ou acordos coletivos, mas não são sindicalizados-contribuintes.)
No seio da grande central sindical do Brasil, a CUT, as taxas de sindicalização vão desde 34% em algumas partes do setor privado até impressionantes 55% no segmento bancário.
Nos últimos oito anos, o poder aquisitivo dos brasileiros subiu 22,2% em termos reais.
Em comparação, nos Estados Unidos somente 11,9% dos trabalhadores são representados por sindicatos; no setor privado, o número chega a 6,9%.
Com o declínio da taxa de sindicalização, vêm aumentando a desigualdade econômica e o poder das corporações.
Enquanto aqui nos EUA nós vivenciamos a estagnação e a queda dos padrões de vida, no Brasil o que está acontecendo é o contrário.
A combinação de um movimento sindical em ascensão e do crescente poder do Partido dos Trabalhadores significou a saída de 40 milhões de brasileiros da pobreza.
Os trabalhadores não se sentem obrigados a se submeter a tratamento injusto ou a exigências patronais para manter seus empregos.
Nada ilustra esse ponto melhor que a história da Foxconn, a empresa que fabrica os iPads e iPhones para a Apple.
Enquanto na China os maus-tratos têm levado trabalhadores ao suicídio, no Brasil os trabalhadores sindicalizados da Foxconn ganham o dobro de seus colegas chineses fazendo o mesmo trabalho, e têm jornadas mais curtas.
A combinação de um movimento sindical vivo com uma legislação trabalhista menos hostil aos sindicatos demonstra que os trabalhadores não precisam adotar uma posição submissa face aos gigantes corporativos globais.
A organização dos trabalhadores em sindicatos fortes é um ingrediente essencial de qualquer movimento comprometido com a conquista da justiça econômica e da democracia.
2. Os trabalhadores bancários e de finanças também podem
438.000 trabalhadores bancários e de finanças brasileiros têm cobertura de acordos coletivos.
A licença-maternidade é de seis meses e o plano de saúde abrange o cônjuge, inclusive do mesmo sexo.
O Citibank e outros bancos que são completamente não-sindicalizados nos Estados Unidos, pagando baixíssimos salários a seus funcionários, são totalmente sindicalizados no Brasil.
Do caixa na agência, ao trabalhador de call center, ao processador de dados – todos são sindicalizados.
O sindicato tem orgulho de seu longo histórico de greves nacionais para obter avanços políticos e econômicos, enfrentando tanto bancos globais quanto nacionais e estatais.
Em 2011, os bancários tiveram grandes conquistas econômicas por meio de uma greve nacional, a despeito das tentativas patronais de resistir a aumentos salariais em nome do combate à inflação.
O Brasil tem demonstrado que trabalhadores de serviços, de ramos não concebidos tradicionalmente como bastiões de poder sindical, podem sim se organizar, ter protagonismo e conquistar mudanças dramáticas.
3. É bom ter o seu próprio partido – quando você está por cima, pode ajudar a prestar cuidados aos outros
Desde que o Partido dos Trabalhadores chegou ao poder, aumentaram os gastos públicos voltados a programas sociais, o que retirou 40 milhões de pessoas da pobreza extrema.
A resposta do Brasil à crise de 2008 foi aumentar os gastos públicos ao invés de adotar programas de austeridade auto-derrotistas.
O Brasil demonstra a importância de se ter um partido político comprometido com os direitos dos trabalhadores, com a justiça econômica e com a igualdade.
4. É preciso ter proteção global para impedir a contaminação dos baixos salários
Os trabalhadores brasileiros sabem que não podem manter sindicatos fortes e padrões de vida em ascensão se tiverem que concorrer com países como os Estados Unidos, onde as empresas rotineiramente violam o estado de direito e os direitos humanos e trabalhistas mais básicos.
É por isso que eles estão ajudando a liderar campanhas mundiais com vistas a firmar acordos internacionais com empresas globais.
Atualmente essa luta inclui o banco espanhol Santander (antigamente chamado Sovereign nos Estados Unidos) e o banco britânico HSBC.
Tais acordos garantiriam o direito dos trabalhadores de formar um sindicato, mesmo quando as empresas operam em países como os Estados Unidos, onde o marco jurídico é dominado pelas corporações e os direitos dos trabalhadores são frequentemente pisoteados.
Os trabalhadores brasileiros sabem que impedir a erosão do padrão de vida nos EUA é fundamental para proteger os avanços que eles vêm conseguindo.
A Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf) e o Sindicato dos Bancários de São Paulo, em conjunto com trabalhadores bancários sindicalizados de todo o mundo (os Estados Unidos são únicos em âmbito global por terem um segmento bancário quase que completamente não-sindicalizado), lançaram uma campanha para limpar o ramo financeiro de dentro para fora.
Eles sabem que os trabalhadores do ramo financeiro são pressionados a vender produtos financeiros desnecessários e perigosos para consumidores incautos.
Isto vai desde a pressão do dia a dia para convencer consumidores a terem a “proteção” do cheque especial, que leva a multas e taxas enormes, até os já bem documentados trambiques envolvendo os empréstimos hipotecários subprime, cujos valores com o tempo explodiam e destruíam as famílias que os haviam contraído, e que ameaçaram a economia como um todo.
O objetivo da campanha é proteger os trabalhadores da retaliação patronal se eles se recusarem a vender produtos financeiros ruins e denunciarem os delitos dos bancos.
Bancários sindicalizados poderiam ser os condutores de um sistema bancário mais seguro e mais justo.
Imagine se em vez de forçar goela abaixo empréstimos subprime e cheques especiais que sugam a poupança das pessoas, os trabalhadores expusessem as práticas sombrias dos bancos e fossem parceiros dos consumidores, exigindo um sistema bancário justo e transparente.
Nos EUA, tem havido casos de muito destaque de denunciantes como Sherry Hunt, gerente na enorme unidade de empréstimos hipotecários do Citibank, que expôs oito anos de delitos – até 2012 – e ganhou 31 milhões de dólares para si.
Imagine se ao invés de alguns poucos denunciantes, nós ajudássemos a capacitar centenas de milhares de trabalhadores bancários a denunciar atos ilegais dos bancos.
Embora aqui nos EUA enfrentemos muitos obstáculos, não vivemos sob uma ditadura.
Compreendendo o que os brasileiros conseguiram alcançar sob condições bem mais adversas, podemos identificar os ingredientes necessários à construção de um movimento social e de verdadeiras mudanças por aqui.
Pode ser que já tenhamos aqui nos Estados Unidos as sementes e o começo do tipo de movimento social que transformou o Brasil.
Quando se combina o trabalho do Occupy, Occupy Our Homes (Ocupar Nossos Lares), a recém-formada Liga dos Defensores de Lares, o crescente desafio ao trilhão de dólares de dívidas estudantis e o muito esperado renascimento da sindicalização, pode-se começar a ver os ingredientes necessários para se conquistar a mudança pra valer.
*Stephen Lerner é organizador sindical e comunitário, integra o movimento Occupy e é arquiteto da campanha Justice for Janitors (Justiça Para Os Faxineiros)
Por Stephen Lerner*
11 de junho de 2012
no Alternet, reproduzido no site do Sindicato dos Bancários de São Paulo
4 Lições dos Bancários (Sindicalizados!) do Brasil que Poderiam Consertar o Sistema Bancário Esfrangalhado dos Estados Unidos
Imagine se ao invés de alguns poucos denunciantes, nós ajudássemos a capacitar centenas de milhares de trabalhadores bancários a denunciar atos ilegais dos bancos.
Eu fui criado num país em que a tradição, os costumes e a economia frequentemente definem quem fica por cima, quem está no comando e quem é desprovido de qualquer poder.
Meu mundo foi virado de ponta-cabeça por uma viagem que fiz recentemente ao Brasil. Talvez tenha sido o vôo noturno e as noites que se seguiram, movidas ao potente destilado brasileiro, a cachaça. Talvez tenha sido o calor e as pessoas tenazes e convictas da Contraf e do Sindicato dos Bancários de São Paulo (sobre os quais falarei mais abaixo) que me ensinaram tanto.
Elas compartilharam comigo algo que poderia mudar as vidas dos americanos que não têm medo de chacoalhar seu sistema e o mundo.
Eu testemunhei e vivenciei reversões de papéis, energia e paixão que chocariam a maior parte das pessoas nos Estados Unidos.
Por intermédio de suas experiências e visão, elas me convenceram que um mundo melhor é possível.
Vou compartilhar aqui algumas lições do Brasil que poderiam mudar nosso futuro, lições que uma vez aprendidas podem trazer um novo significado para nossas vidas. E técnicas que, com tempo e prática, podem aumentar nossa força, melhorar nossa criatividade e ajudar centenas de milhares de pessoas enjauladas em relacionamentos doentios a se libertarem daqueles com poder sobre elas.
Quem sabe? Talvez um dia executivos de bancos tresloucados serão enquadrados por trabalhadores bancários de saco cheio de patrões que, para enriquecer, afundam a economia global. Para entender o contexto dessas lições, é útil traçar um breve histórico.
Até 1985, o Brasil era uma ditadura militar. Agora com quase 200 milhões de habitantes, o Brasil acaba de ultrapassar o Reino Unido para se tornar a 6ª maior economia do mundo. O país é governado pelo Partido dos Trabalhadores e o presidente anterior à atual, Luiz Inácio Lula da Silva, foi metalúrgico e sindicalista.
Dilma Rousseff, a atual e primeira presidente mulher, fez parte do movimento estudantil que se opôs à ditadura militar e foi presa e torturada em sua juventude.
Como foi que o Brasil passou de ditadura militar a democracia vibrante, onde empregos são gerados, salários sobem e ações ousadas são empreendidas para combater a pobreza? Como foi que o Brasil passou de país em que manifestações eram reprimidas e seus participantes presos, torturados e assassinados, para país onde um ex-metalúrgico pôde virar presidente?
Rita Berlofa, uma liderança do Sindicato dos Bancários de São Paulo, descreveu esta mudança da seguinte maneira durante a recente convenção do Sindicato Internacional de Trabalhadores em Serviços – SEIU, em Denver (Colorado, EUA):
– “De 1964 a 1985, nós lutamos contra o regime militar, por eleições livres e por democracia. Durante esse tempo nós congregamos muitos movimentos sociais, e juntos nós demos força para os movimentos sociais se organizarem. Organizamos estudantes e trabalhadores, do campo e da cidade…
– Em 1978, um jovem chamado Lula, migrante do nordeste do Brasil, a parte mais pobre do país, que trabalhou como engraxate quando criança, depois se tornou metalúrgico e líder do sindicato dos metalúrgicos…
– Lula ousou fazer algo audacioso, organizar uma greve de metalúrgicos para confrontar a ditadura militar.
– Isto era algo inimaginável durante a ditadura. Por causa da ousadia da greve e da coragem demonstrada pelos trabalhadores, ela inspirou as pessoas pela sociedade afora. Líderes sindicais, intelectuais, políticos e representantes dos movimentos sociais. E todos nos juntamos para discutir a necessidade de um movimento social para os trabalhadores.
– Um movimento social que permitisse que os trabalhadores liderassem, tomassem decisões sobre a vida política e social do país, e mudassem o Brasil.
– Este movimento social nasceu do sonho de liberdade dos trabalhadores”.
A ditadura foi removida do poder por um forte movimento social conduzido pelos estudantes, por organizações comunitárias e sindicatos. Desde 1979, o MST, um movimento de trabalhadores sem-terra, ocupa e se apossa de terras abandonadas e sub-utilizadas por todo o país.
Enquanto isso, o setor bancário sindicalizado tem evitado que os bancos cometam alguns dos piores excessos dos bancos nos Estados Unidos.
A história e a atualidade do Brasil oferecem algumas lições para nós americanos sobre como deveríamos conceber um desafio ao poder crescentemente tirânico e descontrolado dos super-ricos e das grandes empresas aqui nos Estados Unidos.
1. Os trabalhadores não têm de adotar uma posição submissa
No Brasil, 19% de todos os trabalhadores são sócios de sindicatos. (Uma porcentagem muito mais alta tem a cobertura de convenções ou acordos coletivos, mas não são sindicalizados-contribuintes.)
No seio da grande central sindical do Brasil, a CUT, as taxas de sindicalização vão desde 34% em algumas partes do setor privado até impressionantes 55% no segmento bancário.
Nos últimos oito anos, o poder aquisitivo dos brasileiros subiu 22,2% em termos reais.
Em comparação, nos Estados Unidos somente 11,9% dos trabalhadores são representados por sindicatos; no setor privado, o número chega a 6,9%.
Com o declínio da taxa de sindicalização, vêm aumentando a desigualdade econômica e o poder das corporações.
Enquanto aqui nos EUA nós vivenciamos a estagnação e a queda dos padrões de vida, no Brasil o que está acontecendo é o contrário.
A combinação de um movimento sindical em ascensão e do crescente poder do Partido dos Trabalhadores significou a saída de 40 milhões de brasileiros da pobreza.
Os trabalhadores não se sentem obrigados a se submeter a tratamento injusto ou a exigências patronais para manter seus empregos.
Nada ilustra esse ponto melhor que a história da Foxconn, a empresa que fabrica os iPads e iPhones para a Apple.
Enquanto na China os maus-tratos têm levado trabalhadores ao suicídio, no Brasil os trabalhadores sindicalizados da Foxconn ganham o dobro de seus colegas chineses fazendo o mesmo trabalho, e têm jornadas mais curtas.
A combinação de um movimento sindical vivo com uma legislação trabalhista menos hostil aos sindicatos demonstra que os trabalhadores não precisam adotar uma posição submissa face aos gigantes corporativos globais.
A organização dos trabalhadores em sindicatos fortes é um ingrediente essencial de qualquer movimento comprometido com a conquista da justiça econômica e da democracia.
2. Os trabalhadores bancários e de finanças também podem
438.000 trabalhadores bancários e de finanças brasileiros têm cobertura de acordos coletivos.
A licença-maternidade é de seis meses e o plano de saúde abrange o cônjuge, inclusive do mesmo sexo.
O Citibank e outros bancos que são completamente não-sindicalizados nos Estados Unidos, pagando baixíssimos salários a seus funcionários, são totalmente sindicalizados no Brasil.
Do caixa na agência, ao trabalhador de call center, ao processador de dados – todos são sindicalizados.
O sindicato tem orgulho de seu longo histórico de greves nacionais para obter avanços políticos e econômicos, enfrentando tanto bancos globais quanto nacionais e estatais.
Em 2011, os bancários tiveram grandes conquistas econômicas por meio de uma greve nacional, a despeito das tentativas patronais de resistir a aumentos salariais em nome do combate à inflação.
O Brasil tem demonstrado que trabalhadores de serviços, de ramos não concebidos tradicionalmente como bastiões de poder sindical, podem sim se organizar, ter protagonismo e conquistar mudanças dramáticas.
3. É bom ter o seu próprio partido – quando você está por cima, pode ajudar a prestar cuidados aos outros
Desde que o Partido dos Trabalhadores chegou ao poder, aumentaram os gastos públicos voltados a programas sociais, o que retirou 40 milhões de pessoas da pobreza extrema.
A resposta do Brasil à crise de 2008 foi aumentar os gastos públicos ao invés de adotar programas de austeridade auto-derrotistas.
O Brasil demonstra a importância de se ter um partido político comprometido com os direitos dos trabalhadores, com a justiça econômica e com a igualdade.
4. É preciso ter proteção global para impedir a contaminação dos baixos salários
Os trabalhadores brasileiros sabem que não podem manter sindicatos fortes e padrões de vida em ascensão se tiverem que concorrer com países como os Estados Unidos, onde as empresas rotineiramente violam o estado de direito e os direitos humanos e trabalhistas mais básicos.
É por isso que eles estão ajudando a liderar campanhas mundiais com vistas a firmar acordos internacionais com empresas globais.
Atualmente essa luta inclui o banco espanhol Santander (antigamente chamado Sovereign nos Estados Unidos) e o banco britânico HSBC.
Tais acordos garantiriam o direito dos trabalhadores de formar um sindicato, mesmo quando as empresas operam em países como os Estados Unidos, onde o marco jurídico é dominado pelas corporações e os direitos dos trabalhadores são frequentemente pisoteados.
Os trabalhadores brasileiros sabem que impedir a erosão do padrão de vida nos EUA é fundamental para proteger os avanços que eles vêm conseguindo.
A Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf) e o Sindicato dos Bancários de São Paulo, em conjunto com trabalhadores bancários sindicalizados de todo o mundo (os Estados Unidos são únicos em âmbito global por terem um segmento bancário quase que completamente não-sindicalizado), lançaram uma campanha para limpar o ramo financeiro de dentro para fora.
Eles sabem que os trabalhadores do ramo financeiro são pressionados a vender produtos financeiros desnecessários e perigosos para consumidores incautos.
Isto vai desde a pressão do dia a dia para convencer consumidores a terem a “proteção” do cheque especial, que leva a multas e taxas enormes, até os já bem documentados trambiques envolvendo os empréstimos hipotecários subprime, cujos valores com o tempo explodiam e destruíam as famílias que os haviam contraído, e que ameaçaram a economia como um todo.
O objetivo da campanha é proteger os trabalhadores da retaliação patronal se eles se recusarem a vender produtos financeiros ruins e denunciarem os delitos dos bancos.
Bancários sindicalizados poderiam ser os condutores de um sistema bancário mais seguro e mais justo.
Imagine se em vez de forçar goela abaixo empréstimos subprime e cheques especiais que sugam a poupança das pessoas, os trabalhadores expusessem as práticas sombrias dos bancos e fossem parceiros dos consumidores, exigindo um sistema bancário justo e transparente.
Nos EUA, tem havido casos de muito destaque de denunciantes como Sherry Hunt, gerente na enorme unidade de empréstimos hipotecários do Citibank, que expôs oito anos de delitos – até 2012 – e ganhou 31 milhões de dólares para si.
Imagine se ao invés de alguns poucos denunciantes, nós ajudássemos a capacitar centenas de milhares de trabalhadores bancários a denunciar atos ilegais dos bancos.
Embora aqui nos EUA enfrentemos muitos obstáculos, não vivemos sob uma ditadura.
Compreendendo o que os brasileiros conseguiram alcançar sob condições bem mais adversas, podemos identificar os ingredientes necessários à construção de um movimento social e de verdadeiras mudanças por aqui.
Pode ser que já tenhamos aqui nos Estados Unidos as sementes e o começo do tipo de movimento social que transformou o Brasil.
Quando se combina o trabalho do Occupy, Occupy Our Homes (Ocupar Nossos Lares), a recém-formada Liga dos Defensores de Lares, o crescente desafio ao trilhão de dólares de dívidas estudantis e o muito esperado renascimento da sindicalização, pode-se começar a ver os ingredientes necessários para se conquistar a mudança pra valer.
*Stephen Lerner é organizador sindical e comunitário, integra o movimento Occupy e é arquiteto da campanha Justice for Janitors (Justiça Para Os Faxineiros)
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