Artigos de Murillo de Aragão
28/06/2013 15h16m
Gestão política ruim afeta apoio do governo no Congresso
Murillo de Aragão*
O governo Dilma tem na
insatisfação da relação entre aliados uma de suas tônicas. E, apesar de
tudo e de ser amplamente reconhecido desde seu início, nada de concreto
foi feito para harmonizar os interesses da base aliada e do governo.
A
questão não é nova. Foi posta já na campanha e na montagem do
ministério e antes mesmo do início formal do governo. Sempre ouve uma
tentativa de se separar o que era o governo central do que era uma
espécie de periferia composta por aliados e simpatizantes.
A
relação no núcleo preferencial é baseada em uma certa
"desisntitucionalização", onde quem manda por tema não é formalmente o
ministro da pasta. Outro aspecto marcante é a demora no atendimento das
demandas dos aliados. Por fim, existe uma dificuldade de se manter em
bases constantes um diálogo produtivo e delimitado por uma agenda clara.
Existe
a impressão de que os partidos já estão representados no governo por
meio de ministros e devem, por conta disso, fidelidade às propostas do
governo. Não é assim. Partidos no Brasil são divididos em facções.
Lideranças diferentes comandam as bancadas na Câmara e no Senado. Por
tanto, não é uma operação simples.
Além disso,
existe uma insatisfação com as ministras Ideli Salvatti e Gleisi
Hoffmann, responsabilizadas por alguns aliados pela desarticulação
política pela qual o governo passa.
Disposto a
alterar esse cenário, o PMDB se movimenta. O vice-presidente Michel
Temer e os presidentes da Câmara e Senado, Henrique Eduardo Alves e
Renan Calheiros , respectivamente, terão um encontro com a presidente
Dilma Rousseff para rediscutir o relacionamento entre PT/PMDB.
No
governo FHC, muitas vezes a base e o governo entraram e conflito por
conta de problemas de gestão do relacionamento. Na era Lula corria a
mesma coisa. Apenas com um diferencial. Tanto FHC quanto Lula eram mais
disponíveis para o diálogo. Na era Dilma, a má gestão política já está
pagando um preço. A cada ano decresce o percentual de apoio às propostas
do governo no Congresso.
O apoio aos projetos de
interesse do governo na Câmara dos Deputados no primeiro trimestre do
ano legislativo de 2013 (fevereiro, março e abril) caiu, na comparação
com o mesmo período de 2011 e 2012.
A adesão dos
deputados ao Planalto no primeiro trimestre do governo Dilma foi de
55,29%, caiu para 49,81% em 2012 e agora chega a 43,53%. O levantamento
da Arko Advice analisou 52 votações nominas e abertas (21 em 2011; 12 em
2012; e 19 em 2013). No primeiro ano de seu governo, Dilma não foi
derrotada em nenhuma das votações analisadas. No segundo ano, foram duas
derrotas e, agora, quatro.
Na Câmara, é
interessante observar o comportamento do PSB. O apoio da legenda
atingiu, no primeiro trimestre deste ano, um dos níveis mais baixos
entre os partidos da base (26,92%). A queda coincide com a movimentação
de Eduardo Campos (PSB-PE) para viabilizar sua candidatura à
Presidência.
No Senado, o quadro é um pouco melhor
em termos de apoio, mas também fica visível o desgaste com o Planalto.
No primeiro trimestre de 2011, aconteceram dez votações nominais e
abertas de interesse do governo, com apoio de 57,72%. No ano seguinte,
caiu o número de votações – apenas seis –, mas aumentou a adesão ao
Planalto: 61,72%. Este ano, foram apenas duas votações, com apoio de
56,87%.
Com a proximidade da campanha eleitoral, o
problema pode se transformar em um obstáculo adicional à campanha de
Dilma Rousseff à presidência. Nada que não possa ser contornado. Porém,
seria mais fácil se o dialogo político e o relacionamento entre aliados
fosse mais tranquilo.
* Mestre em Ciência Política, doutor em Sociologia pela Universidade de Brasília e presidente da Arko Advice.
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