terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

No interior de SP, população impediu remoção de trem em 1960

Por IgorEliezer

Do Blog do Ralph Giesbrecht

O DIA EM QUE A POPULAÇÃO SE REVOLTOU CONTRA A RETIRADA DO TREM

O Estado de S. Paulo, 28/1/1960

Estação de Padua Salles, Conchal, SP, dia 27 de janeiro de 1960. Era essa a estação terminal da linha da antiga E. F. Funilense, que, depois que a Sorocabana ficou com a linha quarenta anos antes, passou a ser chamada de ramal de Padua Salles.

O local fica à beira da margem esquerda do rio Mogi-Guaçu, bairro rural até hoje. A Sorocabana havia avisado que no dia 27 iria começar a retirada dos trilhos do ramal, começando pelo seu terminal. Só que a ferrovia não contava com um detalhe: o povo dali resolveu reagir. O serviço deveria começar às seis da manhã. Porém, bastou nascer o sol e começou a chegar gente a pé e em caminhões, que vinham de Artur Nogueira, Cospmopolis, Conchal e, postando-se sobre a linha, avisavam aos operários da Sorocabana para irem embora.


Muito mais gente foi chegando durante o dia. A cidade de Conchal parou. Os operários foram embora sem levar nada.
 
Uma semana depois, três de fevereiro, Campinas, SP. Da estação do Bonfim, às 4 e quarenta da tarde, partia um trem da Sorocabana com destino a Padua Salles. A ordem teria vindo do governador Carvalho Pinto. A ordem era correr todos os dias, "em caráter provisório até que as cidades do ramal fossem providas de estradas federais, que estariam sendo providenciadas".

O trem foi parando em todas as estações. Em Barão Geraldo, a primeira, uma multidão o esperava e plaudia. Depois, a mesma coisa em Betel, Santa Teresinha e Paulinia, onde até o prefeito eseprava o trem com mais duzentas pessoas na estação. Mais para a frente, em Artur Nogueira, 150 pessoas esperavam o trem. Em Engenheiro Coelho, a população inteira do então pequeno bairro o aguardavam. Chegou o trem a Conchal àsoito e quarenta e cinco da noite. Na praça, houve discursos e manifestações.
 
O trem da Sorocabana parte de Campinas para Conchal em 3 de fevereiro (O Estado de S. Paulo, 4/2/1960)

Essa região toda, hoje em dia, com exceção de Paulinia, está longe de ser um reduto de riqueza. Sem o trem, naquela época, seria menos do que nada. As estradas eram péssimas.

O trem acabou de novo no final desse ano de 1960, para nunca mais voltar. Se as estradas foram feitas em onze meses, tenho sérias dúvidas. Hoje, elas existem, mas provavelmente foram asfaltadas somente nos anos 1970, mais de dez anos depois.

Muitas das estações da linha foram demolidas, outras viraram ruínas ou têm outros usos. Em Pádua Salles, praticamente nada resta da vila ferroviária. A estação foi para o chão. O aspecto, como disse, é ainda bastante rural e pobre. Mas fica a lembrança de que, pelo menos um dia, neste País, a população se levantou para salvar seus interesses.

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