José Antonio Lima
África
16.08.2012 14:46
Massacre na África do Sul traz à tona memórias do Apartheid
Policiais sul-africanos cercam corpos de mineiros mortos em Marikana. A cena fez lembrar o Apartheid. Foto: AFP
A chacina de quinta-feira 16 ocorreu nas minas de Marikana (a 40 quilômetros de Johannesburgo), onde a empresa britânica Lonmin obtém 96% da platina que exporta para todo o mundo. As cenas jogaram os sul-africanos mais de uma década para trás. Em trajes de choque e fortemente armados, os policiais montavam barricadas com arame farpado quando foram flanqueados por grupos de trabalhadores, muitos deles armados com machetes, lanças e outras armas improvisadas. A polícia, então, abriu fogo contra os manifestantes. Após a salva de tiros, pelo menos sete corpos ficaram no chão. A agência Reuters afirmou que até 18 pessoas podem ter sido assassinadas.
Nesta sexta-feira 17, as notícias mostraram que o massacre foi ainda maior. Pelo 34 pessoas morreram e outras 78 ficaram feridas e foram levadas aos hospitais de Rustemburgo e Johannesburgo, duas das maiores cidades da região. Imediatamente após o massacre, a polícia sul-africana não se manifestou. Nesta sexta, foi inevitável. E as declarações não servem para explicar o banho de sangue. “A polícia teve que usar a força para se proteger do grupo que estava atacando”, disse Riah Phiyega, um ex-executivo de bancos que é o comandante da polícia sul-africana desde junho.
Horas depois das mortes, o presidente da África do Sul, Jacob Zuma, emitiu um comunicado lamentando o episódio e prometendo levar os culpados à Justiça. Segundo Zuma, há na África do Sul “espaço suficiente na ordem democrática para que qualquer disputa seja resolvida por meio do diálogo sem rompimentos da lei ou violência”.
A fala de Zuma não encontra ecos na sociedade sul-africana. Segundo a agência Reuters, o jornal Sowetan questionou em editorial nesta sexta-feira o que havia mudado no país desde 1994, quando o Apartheid chegou ao fim. Para a publicação, os negros pobres continuam sendo tratados como objetos pelo governo. Instituições ligadas aos direitos humanos condenaram o massacre, também assemelhando o ato policial ao tipo de comportamento que as autoridades tinham durante o auge do regime racista.
Armados, mineiros ocupam monte perto da mina de Marikana, nesta quinta-feira 16, antes do confronto com a polícia. Foto: AFP
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Barnard Mokwena, vice-presidente-executivo da mineradora, afirmou que a empresa estava interessada em negociar por meio de “estruturas reconhecidas” (leia-se os sindicatos) e que não pretendia dar aumento salarial. A grande preocupação da Lonmim é com a queda de mais de 6% de suas ações na Bolsa de Londres e com o fato de ter deixado de produzir cerca de 15 mil onças (425 quilos) de platina nos últimos seis dias. A diretoria da Lonmim se recusou a comentar o massacre em suas minas. A empresa se limitou a dizer, à agência Associated Press, que se tratava de uma “operação policial”.
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