terça-feira, 13 de março de 2012

Ensino em tempo integral.

Editorial

Dilma Rousseff: ensino em período integral e a realização da revolução social no Brasil

Escola em tempo integral deveria ser uma das prioridades fundamentais dos governos brasileiros. Ao lado da alimentação, da saúde e da habitação, a educação em tempo integral deveria compor o quadro dos serviços públicos essenciais, entendidos como direitos dos cidadãos e obrigação do Estado. Não basta prover educação pública à população. É preciso que a educação oferecida seja de qualidade, em instalações condignas e funcionais, com professores e servidores bem remunerados, bem qualificados, motivados e avaliados periodicamente e, além disso, é preciso que as atividades escolares se distribuam ao longo do dia, em turno integral, revezando-se o ensino teórico com as atividades lúdicas, artísticas e esportivas.
Leia Mais:
– Mais de 30 mil escolas vão ter aulas em tempo integral este ano, diz presidenta
É assim que se faz nos países desenvolvidos ou que se preparam, efetivamente, para o desenvolvimento econômico e social. Veja-se a atenção dedicada ao ensino fundamental (de primeiro e segundo graus) nos EUA, na Inglaterra, na França, no Japão, e também na Coréia do Sul e na China. Nestes países, o ensino ocorre em tempo integral, as escolas são bem instaladas, os professores são bem pagos, são motivados, bem qualificados e avaliados periodicamente. Além disso, na maioria destes países, o ensino fundamental é de gratuito e de responsabilidade do Estado, o que implica que existem currículos escolares mínimos centralmente definidos e que os alunos, assim como os professores, são avaliados pelo seu desempenho.
No Brasil, com a expansão do ensino fundamental, ocorrida a partir dos anos de 1970 e concluída no início dos anos 2000, período no qual se passou de apenas 52% da população em idade escolar atendida por escola para 98% frequentando escola, ocorreu também a transferência da responsabilidade do ensino para a esfera privada. Inverteu-se a lógica dos anos de 1940, 1950 e 1960, quando “escola boa era escola pública” e escola boa passou a ser escola particular. Durante o período ditatorial militar brasileiro (1964/1985), mas também durante os primeiros governos da chamada Nova República brasileira (período democrático pós-ditadura militar e que perdura ainda hoje no país), com a massificação do ensino, a escola pública passou a ser “escola de pobre”: os professores e servidores escolares públicos passaram a ser cada vez mais mal remunerados, as instalações físicas das escolas públicas se deterioram e o ensino caiu de qualidade.
As únicas tentativas efetivas de reversão deste quadro ocorreram durante os governos de esquerda, com Leonel Brizola (PDT) à frente, durante seu governo estadual no Rio de Janeiro (1983/1986), e com Marta Suplicy (PT), durante sua gestão na Prefeitura de São Paulo (2001/2004). Brizola criou os Centros Integrados de Educação Pública (CIEP), também conhecidos como “Brizolões”, e Marta os Centros Educacionais Unificados (CEU), ambos com ensino em período integral e com o desenvolvimento de atividades pedagógicas, lúdicas, artísticas e esportivas ocorrendo alternadamente durante a jornada escolar. Antes destas iniciativas, existiu a experiência dos Ginásios Vocacionais, em cinco cidades do estado de São Paulo, também públicos e em período integral, criados no período pré-ditatorial, mas extintos, em seu projeto original, no pós-1968.
É alvissareira, portanto, a divulgação realizada hoje por Dilma Rousseff, durante o programa de rádio Café com a Presidenta, de que mais de 30 mil escolas em todo o país vão ter aula em tempo integral ainda neste ano e que até o final de seu mandato, em 2014, deverão ser 60 mil escolas em turno integral. São hoje 2,8 milhões de estudantes do 1º ao 9º ano beneficiados pelo Programa Mais Educação e que ficam na escola durante sete horas diárias. Eles deverão chegar a 5 milhões até o final de 2012 e dobrar em 2014. Deverão ser investidos R$ 1,4 bilhão ao ano neste programa, em conjunto com as Prefeituras Municipais e beneficiando prioritariamente os estudantes que recebem o Bolsa Família e os que tiveram baixa avaliação no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB).
Oriunda do PDT, a partir de sua militância partidária legal, e hoje integrante do PT, Dilma Rousseff tem passado e presente político suficiente para se tornar a presidenta que introduziu o ensino integral de qualidade no Brasil. Se assim o fizer, estará realizando uma revolução social no Brasil, no sentido pleno e autêntico do conceito.

Nenhum comentário:

Postar um comentário